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Arquivo da categoria: Texto

Semifinalista no prêmio “Prata da Casa” – 2024.



ACERCA DA POESIA

Não há o que pôr na poesia. Tão estúpida é a poesia…
Fica tudo melhor em prosa, em mídias digitais, fitas,
televisão, cinema, música e pintura. Poesia? Ah! Que
importa a poesia? Não é caso de preconceito… É de
inadequação: o texto poético não serve. Não para tudo
do jeito que está. Cães sem tempo do latir, abelhas sem
tempo de mel, árvores sem tempo de sombra, homens
sem tempo de morrer, aves sem tempo de céu. Horário
digital pra acordar, vazio, excesso. A cabeça não
comporta. Como a poesia não comporta.

Lembro até do tempo em que a poesia servia. Havia um
frio mais forte na cidade. Havia um calor mais forte.
Havia uma cidade. Sempre havia. Havia um sonho. Feito
de outro sonho. Que se dividia em dois: um estático e
outro rio. Havia meninas de vestidos macios. Havia
meninas nas ruas. Todas de vestidos. Leve algodão-doce
eram os vestidos… Ao tocá-las vestidas como tocá-las
nuas.

Hoje – tudo em mídia prosa – há uma rosa morta na
rua. Há uns olhos tristes, presos, “não com remédios mas
com a ausência que a tudo povoa
”*. Há homens em
discos. Não há homens com papel.





*Edimilson de Almeida Pereira, “Agonia e Sorte de Stela do Patrocínio”.  In Zeosório Blues (Poesia reunida vol. 1).

 
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Publicado por em 30 de abril de 2024 em Novo Texto, Texto

 

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Deguste direto da nova recolha…




Escrita

Ah se escreverei!
Claro que escreverei.
Que caído o signo
sobrevive o coração.

E não farei poesia para o convívio dos homens
dos ônibus lotados; da polifonia em pacotes
Farei versos danosos, brutais!

Nem aquele Grego
nem o tal Latino
nem o Português
são religião minha!
 – que nada sei de religião –
Minha ciência?
Sou eu entre as pernas de uma mulher.

Ah se escreverei!
E não lamentarei navios…
que já há naufragados de tantos atos!

Se escreverei? Oras!
Haec sunt verba Gustavus Goulartii!

E nada quero das profecias!
as quero longe gentes,
bem longe de mim.

Um homem não pode mais viver?

Se escrevo? Claro que escrevo – 
em cada nota de música
um beijo apaixonado.

Depois muda a semana
e a manchete é outra.

Que diabos precisa mais o homem?

Não é faculdade dele viver cada dia
e a cada dia fazer as tarefas de homem?

Sem chorar.
Sem lamentar.
Sem praguejar.

Que tudo isso já foi feito…
E de nada adiantou.

A vida é bravura
carne
ossos
veias
 
tudo





@gustavo goulart

 
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Publicado por em 21 de abril de 2024 em Livro, Novo Texto, Texto

 

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Poema semifinalista do “Pena de Ouro” (2023).


.Semi-finalist poem for the “Pena de Ouro” award – 2023 edition. The award covers the entire Portuguese-speaking world.
.Poema semifinalista del premio “Peña de Ouro” – edición 2023. El premio abarca todo el mundo de habla portuguesa.
.Poesia semifinalista per il premio “Pena de Ouro” – edizione 2023. Il premio copre l’intero mondo di lingua portoghese.

Mini-biografia no site do prêmio:
https://www.casabrasileiradelivros.com/post/pena-de-ouro-2023-conhecendo-os-semifinalistas-gustavo-coutinho-goulart-categoria-poema

 
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Publicado por em 23 de março de 2024 em Texto

 

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o 5º livro

A formação do homem pela herança sob a óptica da lírica mineira

 
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Publicado por em 22 de março de 2024 em Foto, Livro, Texto

 

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O Primeiro Texto…

Eternidade

Pai
Agora vais de encontro a meu avô.
E te enterro aqui nesta terra que é tu mesmo em forma morta.
Foi aqui que vieste ao mundo. É aqui que ficarás no mundo
como coisa unida, devolvida ao estático. Finito no infinito.

Pai
católico a vida inteira… Venho eu: ateu, ateu de mim mesmo, ateu das coisas

– mas crente das mulheres todas (!) que as amo
e amo sempre e mais e melhor. E aceito minha condição e desejo as carnes de todas elas!
Feliz é quem exerce o que se nasceu pra ser –

para dizer-te: a imortalidade é real, existe e agora tu a experimentas.

Pai
a imortalidade é medida pela tua ação ao teu clã.
Nascente, viveste, casaste, morreste.
Mas como morreste?! Não vês que sou eu mesmo o homem que
o fez Pai? Não veste que tens também uma filha em minha irmã?
Não vês… Que tens um neto?
Em nós tua carne viverá. Agora és imortal.

Pai
o que acontece hoje já aconteceu e acontecerá de novo.
Pois assim são as coisas e elas estão certas e tudo está como deve.
À sua hora o sol nasce. À sua hora, morre.
A lua o segue e o seguirá novamente.
Tudo está em seu lugar.

Pai
se deixas os filhos de teu clã vivos – num adeus necessário porém silencioso
Voltas para teus irmãos e irmãs. Teu pai e tua mãe.
Ao lado deles permanecerá deitado.
Tu retornas ao clã falecido.
Viste? Tudo está como deve.

…………………………………………………………………………………..

Meu pai
deixastes com defeitos e virtudes marcadas no fundo de mim o silêncio das pedras.
A ironia.
O observar.
O self-control:
Um homem que é senhor de si vence dez outros homens!
Com uma só palavra levanta mil outros homens à guerra!
Tomando a frente do exército para si leva cem mil homens à vitória!

O homem senhor de si
chama as tempestades e elas atendem: raios partem os céus em calamidades!
Levanta as montanhas com as mãos!
Desafia deuses e homens e os vence.

Meu pai
deitas agora ao lado de teu pai

……………………………………………………………………………………

E tomo por lição o que vai acontecer comigo.
E tudo está bem. E tudo está como deve.

Virá
em tempo futuro ininvestigável
um filho meu, teu neto
e me enterrarás deitado ao lado de meus avôs e de ti.

E acontecerá de novo o que deve.
E aconteceu antes e acontecerá de novo.
E eu volto aos de meu clã que estão estáticos
mas cuidam da relva da manhã de todas as plantas do mundo.

E tudo está como deve. E tudo está bem.

A eternidade nas carnes dos que deixamos…
A eternidade na fidelidade dos que nos aguardam

              [agora em pedra, em ossos

              [e com teu corpo morto: és livre.

 
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Publicado por em 16 de janeiro de 2021 em Livro, Novo Texto, Texto

 

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INTERREGNUM: onde comprar?

LINK DA LOJA ON LINE DA IBIS LIBRIS EDITORA:

https://ibislibris.loja2.com.br/9672319-Interregnum?fbclid=IwAR3KXzON8xRK0r_9qhHQtytjCDq1jhigF1eyytMS3_uN02JBsM2YYentV9o

 
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Publicado por em 25 de novembro de 2020 em Foto, Livro, Novo Texto, Onde comprar, Texto, Where to buy

 

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Interregnum: participações.

Dia 24, terça-feira, venham participar do sarau baseado em Interregnum, novo livro de Gustavo Goulart. Estarão presentes os atores e poetas:
Will Tom,
Sérgio Confort,
Ronnie Marruda e
Eduardo Tornaghi
interpretando alguns dos textos de Goulart, cujo livro foi inspirado nas fotografias de Fabio Giorgi e tem produção editorial da Íbis Libris.

 
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Publicado por em 24 de novembro de 2020 em Foto, Livro, Novo Texto, Texto

 

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O Poeta Pobre.

Nicolas Souza Santos inaugura-se como poeta no livro “O Poeta Pobre” (Chiado editora).

A poesia de Santos é mestiça… recusa-se à dança, mas usa elementos de todas as etnias,

todas as classes sociais e suas diferenças aberrantes.

O livro que o inaugura mostra como o momento atual da cultura forma artistas

multifacetados (o que é muito bom) e desfragmentados (o que é um sinal a se observar):

Ainda que o livro tenha seu “Leitmotiv” (do alemão, motivo condutor)… é claro o reflexo

de uma realidade tanto partida quanto cheia de caminhos – mas sem referências.

O homem-poeta é bem diferente: pai, biólogo, instrutor, leitor voraz, até uma segunda

graduação ele tem. E já viveu em seu pouco tempo neste mundo… um mundo bem mais

vasto. Ainda que a realidade esteja sacudindo: educa os filhos com bases sólidas. Ainda

que a realidade esteja sacudindo: planeja e executa metas. Muito bem visto pelos que

o conhece guarda uma estranha condição: mineiro… não liga muito para raízes (lugares e

objetos) e prefere a vida assim. Essa ação é violentamente contra o Éthos mineiro; mas

o faz inconscientemente. Como bom brasileiro: o futebol é uma paixão e o Flamengo,

uma igreja.

Já em seu primeiro livro que consegue voz própria, Nicolas se lança como uma poesia

diversa dentro de sua geração, tornando-o interessante. Vejamos: 1) o uso do vernáculo

é o do coloquial, de quem olha pela janela, de quem olha pela rua, de quem dirige um tá-

xi… O autor intenta uma poesia participativa… Mas para tal fim carece de mais

maturação. Se sobressai a isso – sem nenhuma dúvida – texto engraçados onde o

cotidiano é retratado… sem metafísica, sem política, apenas o dia-a-dia.

2) Encontra-se (estranhamente) um leitor de Manoel Bandeira, Mário Quintana…

Mas no mesmo grau: trás a influência da música. A boa música nossa e internacional.

O “estranho” é que (o conjunto de ofertas sem referências que citamos acima e que

parece constituir o mundo atual) dá a Nicolas (e ele aceita) músicas de Hip-hop e o

rap de nossas periferias: o mundo que criamos para deixar lá o que não queremos

ver.

Assim o apanhado é um livro de poesia contemporânea e não é medroso:

aceita seu lugar e tempo.

 


Como o século XXI reagirá com o retorno dos deuses é pergunta comum para

escritores dos mais sérios, homens que pertencem ao nosso Cânone Ocidental.

O mundo não acabará – salvo por motivos naturais a um planeta – pois o homem

sempre se reinventa. Sempre. Não há como saber o que Eros espera em seu canto e

Apolo que é o deus das artes, da música, da profecia, da verdade, da poesia, da

harmonia, da perfeição e da cura (poesia não seria a possibilidade da redenção? E não

o que dizem as várias religiões?)

sempre brinca com seus filhos: ora dando grande

inspiração, ora dando um grande “oblivion” de si mesmo quanto ao mundo.

Impossível dizer como faremos ao defrontarmos os deuses fundadores.

(Nicolas contou com a orelha escrita por Darlan Lula, fotos de Clara Arbach, arte de Pedro Lima e composição gráfica e artes finais de Manuela Duarte )

PS: Abaixo um link para a compra do livro.

https://www.chiadobooks.com/livraria/o-poeta-pobre

 

 

 

 
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Publicado por em 14 de setembro de 2019 em Foto, Livro, Novo Texto, Texto

 

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10 anos de pequenas coisas

Há 10 anos no bairro Vila Madalena em São Paulo lançávamos

“PEQUENAS COISAS”

2º livro prefaciado pelo prof. doutor em letras Falentim Facioli (USP).

O livro é de selo duplo: Nankin Editorial e Funalfa Edições.

Mesmo sendo um poeta no Brasil, tropical e inculto… há um gosto de conforto

em escrever e publicar poesia. Homero deveria saber o motivo.

Capa do livro PEQUENAS COISAS_122447

OBS: Abaixo o link – no caso da Martins Fontes – onde o livro pode ser encontrado.

https://www.martinsfontespaulista.com.br/pequenas-coisas-323021.aspx/p

 
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Publicado por em 13 de setembro de 2019 em Foto, Livro, Novo Texto, Texto

 

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ENTÃO JUNTOS SOMANDO AS PARTES (“Estado ao Vento” – 2006)

ENTÃO JUNTOS SOMANDO AS PARTES

Então juntos somando as partes
parecem assim tão separados
é a mesma coisa fato
de um homem e uma mulher
juntos de tão separados

As almas ali acolhidas
os corpos tão separados
ela coração ele corpo
que o coração do corpo
não se pode alcançar nunca

Das diferenças unidas
o prazer vital para
continuar nesse não
sentido que enche a vida

Se a vida não for vazio
sem esperanças de preenchimento

 
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Publicado por em 9 de junho de 2014 em Texto

 

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