Escrita
Ah se escreverei!
Claro que escreverei.
Que caído o signo
sobrevive o coração.
E não farei poesia para o convívio dos homens
dos ônibus lotados; da polifonia em pacotes
Farei versos danosos, brutais!
Nem aquele Grego
nem o tal Latino
nem o Português
são religião minha!
– que nada sei de religião –
Minha ciência?
Sou eu entre as pernas de uma mulher.
Ah se escreverei!
E não lamentarei navios…
que já há naufragados de tantos atos!
Se escreverei? Oras!
Haec sunt verba Gustavus Goulartii!
E nada quero das profecias!
as quero longe gentes,
bem longe de mim.
Um homem não pode mais viver?
Se escrevo? Claro que escrevo –
em cada nota de música
um beijo apaixonado.
Depois muda a semana
e a manchete é outra.
Que diabos precisa mais o homem?
Não é faculdade dele viver cada dia
e a cada dia fazer as tarefas de homem?
Sem chorar.
Sem lamentar.
Sem praguejar.
Que tudo isso já foi feito…
E de nada adiantou.
A vida é bravura
carne
ossos
veias
tudo
@gustavo goulart
Deguste direto da nova recolha…
ESBOÇO: “conjunto dos traços iniciais, geralmente provisórios, de um desenho, de uma obra de arte”. (Fonte: Oxford Languages)
“Em “A Educação do Pai” cresceu mais um degrau a poética de Gustavo, e nela, como um brilho nos olhos a refletir. Mundo. Tanto ao alcance quanto imaginado. Que se passou, invisível, por entre os dedos no ato de transformar poesia? Lá está, no mais alto grau poético, de novo e outra vez, junto a Carlos Drummond, Mário de Andrade, outros, um Gustavo entre o visceral e o sublime, a dar mais este regalo.”
“In “A Educação do Pai” (“Father’s Education”) Gustavo’s poetics grew yet another step, and in it, like a sparkle in the eyes to reflect. The world: both within reach and imagined. What happened, invisible, through our fingers in the act of transforming poetry? There he is, in the highest poetic degree, again and again, together with Carlos Drummond, Mário de Andrade, others, a “Gustavo Goulart” between the visceral and the sublime, giving yet another gift.”
“En “A Educação do Pai” (“La Educación del Padre”) la poética de Gustavo creció un paso más, y en ella, como un brillo en los ojos para reflexionar. Mundo. Tanto al alcance como imaginado. ¿Qué pasó, invisible, a través de nuestros dedos en el acto de transformar la poesía? Ahí está, en el más alto grado poético, una y otra vez, junto a Carlos Drummond, Mário de Andrade y otros, un Gustavo entre lo visceral y lo sublime, dando un regalo más”.
“In “A Educação do Pai” (“L’educazione del Padre”) la poetica di Gustavo cresciuta un ulteriore passo avanti, e in essa, ancora di un passo, e in esso, come una scintilla negli occhi per riflettere. Mondo. Sia a portata di mano che immaginato. Cosa è successo, invisibile, attraverso le nostre dita nell’atto di trasformare la poesia? Eccolo lì, al più alto grado poetico, ancora e ancora, insieme a Carlos Drummond, Mário de Andrade e altri, un Gustavo tra il viscerale e il sublime, regalando ancora un’altra sorpresa.”
Leon Nunes – Romancista.
From the same author of
Do mesmo autor de
Del mismo autor de
Dello stesso autore di
.Estado ao Vento (2006)
.Pequenas Coisas (2009)
.Algum Mal & Outras Pequenas Coisas (2013)
.Interregnum (2020)
Mais ineditismo
O Menino
o menino que habita em mim
dá bom dia ao dia que nasce
o menino que habita em mim
desce da cama primeiro pra brincar
sem preocupação de cama
o menino que habita em mim
cheira as coisas e tem no peito estampado
um triangulo vermelho e um retângulo branco
o menino que habita em mim
dorme e acorda sob a égide da secularidade
das coisas que crescem da terra
e das águas que correm mansas
brinca sozinho com pedrinhas
olha as meninas de longe e as quer
– já guarda desejo de homem –
é justo com os honestos
e acolhe ofensas sem paixão alguma
colhe frutas só para si e corre
quando os outros parentes o chama
pra colher frutas para todos
o menino que habita em mim
corre por todo o dia
e à noite descansa
é o primeiro a ir para a cama
e sonha menino sonha
com a menina morena
que sabe lá da escola
o menino que habita em mim
o menino que habita em mim
observa a procissão romana
e o congado africano
nada entende
mas faz deferência a ambos
nasceu com oitenta anos
é velho como os morros e os ouros
e é espartano na vida
vive só com o que precisa
guerreia em honra à família
despreza os desordeiros
e se entristece da má poesia
o menino que habita em mim (consta)
parou um dia e ouviu um velho preto
que recitava casos antigos do estado
– e perdeu aula de matemática por isso –
mas saía pra comprar cigarros para o pai
sabia o preço e o troco – ia surpreso com o mundo
e voltava encantado com o que tinha
nunca precisou de aulas de matemática
o menino que habita em mim
parava diante de igrejas
nunca achou deus nenhum nelas
(nem procurava)
admirava-as pelo tempo que elas
diziam ter das pessoas que vieram antes
algumas eram de mesmo sangue
e ele seguia para casa
com todos os antepassados nos passos
o menino que habita em mim
nasceu lá nas famílias da Europa
mas já não tem essa memória
achava que as montanhas eram todo o mundo
e que todo mundo achava que as montanhas eram o mundo
ele mesmo não sabia que fundaria ainda
uma dinastia inteira
era filho de reis mas de temperamento simples
apiedava-se dos pobres
calava os defeitos dos outros
pedia bença à vó sem saber o que era isso
mas pedia todo dia
depois ia atrás do pai curioso
era um mundo inteiro que se abria
nem sabia que o pai continuava nele
o menino que habita em mim
regrava o dia qual relógio suíço
olhadas as horas por mineiro
mas desgovernava todas as obrigações
quando a menina morena lhe olhava um sorriso
©gustavo coutinho goulart
Registro e inédito
#Record and unpublished. Unpublished poem for your entertainment.
#Un registro y otro inédito. Poesía inédita para que la disfrutes.
#Registrato e inedito. Una poesia inedita tutta da gustare.
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No carro com a namorada
– “Que cheiro de mofo!”
– São as minhas esperanças…
Areal, RJ – 01/mar/2017
@gustavo_goulart05
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Driving the car with the girlfriend
– “What a musty smell!”
– These are my hopes…
Conduciendo con mi chica
– “Qué olor a moho!”
– Estas son mis esperanzas…
In macchina con la mia ragazza
– “Ma che odore di muffa!”
– Queste sono le mie speranze…
Foto por Júlia Milward.
Poema semifinalista do “Pena de Ouro” (2023).
.Semi-finalist poem for the “Pena de Ouro” award – 2023 edition. The award covers the entire Portuguese-speaking world.
.Poema semifinalista del premio “Peña de Ouro” – edición 2023. El premio abarca todo el mundo de habla portuguesa.
.Poesia semifinalista per il premio “Pena de Ouro” – edizione 2023. Il premio copre l’intero mondo di lingua portoghese.
Mini-biografia no site do prêmio:
https://www.casabrasileiradelivros.com/post/pena-de-ouro-2023-conhecendo-os-semifinalistas-gustavo-coutinho-goulart-categoria-poema
PEDIDO
Minha avó chorava na praça
com André, seu bisneto
de dois anos no colo.
Ele disse: “não chora, não”.
Pedido que não represou,
aumentou o choro.
O choro dela escorria pelas
ruas cheias de sombras
de Estrela D’alva.
A infância foi de novo
cavada com enxada
em mãos de menina.
A mãe traída várias
vezes, o pai perdendo
o dinheiro da família.
Os seus treze irmãos
os namoros só de olhares
o casamento sem escolhas
O filho morto aos nove
os cinco anos de luto
durando até o infinito
A filha que aos dois anos
se embebedou com vinho
minha avó chorava:
“Minha filha não para em pé…!
problema nas pernas, meu Deus!”
Depois viu que era no coração.
(Nas sombras de lágrimas
de Estrela D’alva
vi meu avô que não conheci;
A luta dia-a-dia na venda
Honra Economia Coragem
medo só de chuva com raios.
O amor por cavalos.
Consta que tinha uma égua.
Cuidava dela muito bem.
Vi meus poucos amigos.
As muitas namoradas
que não tive, me sorrindo.
Na sombra, a minha
grande solidão
escura até de dia.
Recolhi lápis e papel.)
Minha avó depois de alguns
momentos lágrimas
Recolheu o pequeno André
que não teve seu pedido
atendido.
#”Pedido” – do livro “Estado ao Vento”, Funalfa Edições – Juiz de Fora, MG (2006).
Carlos Nejar no Eletrografia #15
“O que não existe é fundado na palavra” Carlos Nejar.
Em:
https://www.youtube.com/watch?v=dQoHhiMH6Ck
Campograndenews entrevista Carlos Nejar
O membro da ABL, Carlos Nejar, cede entrevista no Mato Grosso do Sul.
https://www.campograndenews.com.br/conteudo-patrocinado/festas-e-eventos-tv/carlos-nejar-e-as-palavras-que-o-constroem#brid_cp_Brid_809bcfd6d1b2fff742266a0a66
Ronnie Marruda recita “Ilusão Vital”
Do livro “INTERREGNUM”: Ilusão Vital.
No YouTube abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=fMTzYwFVfvM
Ilusão vital
Sou um homem
essa coisa pequena e fraca
sem algo que me proteja da chuva
da natureza honesta
ou da antropomórfica maquinaria.
Todos da tribo cuidaram para que eu
concordasse com as vitalidades de hospício
o ser antropomórfico – medida de toda medida –
à exceção do próprio Tempo, única medida real.
E cuidaram artesanalmente da mente crua
da crueldade de sentir e não fazer
e que todos somos filhos da mesma desesperança
esta mentira sólida de desencontros de corações.
Vim ao mundo como vieram todos:
filhos da conveniência e agouro
da ilusão vital
do vômito
do tempo
de humores afetados.
Carrego livros de poesia
escondo um lobo ali
e os óculos começam a não servir
e dói a cabeça pesada.
Estouro
em mil pedaços
que as pessoas na rua andam por cima
– sem preocupação ou piedade que se faça notar –
A vida é cinza.
E um filho?
Perdi o galho familiar e o tempo se foi.
Penso: delegar destino indigno
traça voraz
negação e tempo.
A vida é cinza.
In “INTERREGNUM” por Ibis Libris Editora – Rio de Janeiro, dezembro de 2020.
ONDE COMPRAR?
Loja virtual da Ibis Libris Editora:
https://ibislibris.loja2.com.br/9672319-Interregnum?fbclid=IwAR3KXzON8xRK0r_9qhHQtytjCDq1jhigF1eyytMS3_uN02JBsM2YYentV9o
EDUARDO TORNAGHI
Recita “Não Leias” de “INTERREGNUM”, Ibis Libris Editora. Dezembro de 2020.
NO YOUTUBE:
https://www.youtube.com/watch?v=yTNrXARgFVQ
“Não Leias”
Não leias essa poesia contemporânea
Não faças isso!
Há muito desanima Homero
E os novos são bebês ressentidos
Principalmente a brasileira
Ah! Não, não a leia
Que raiva tens de ti mesmo
Para fazê-lo?
Versos desversos desleixados
Crianças que fazem sem leituras
As leituras dos pergaminhos
As leituras da vida
As leituras do passado
As leituras das janelas
Assim não há portas
Assim não há livros
A serem lidos
Ou compostos
Homero é um nome
Besta nas livrarias
Não leias essa poesia contemporânea
Principalmente se brasileira!
Não leias
Nada há nas folhas brancas
Eternamente aguardando novos poetas
Eternamente a nosso serviço
Desanimadas do desuso e manchas
Entediadas dos poetas de internet
E os poetas-de-passagem
Não te faças isso!
Não leias sequer esse canto
Que de tentativas já ficou rouco
E quase sem voz
luta pela migalha da palavra na manhã